terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Quem foi Manuel Correia de Andrade?



Em 1995 nascia o D.A. de História da UFRPE. Em sua quinta gestão (2001), aprovou em assembléia estudantil a mudança do nome em homenagem a um personagem vivo da história de Recife, o professor Manoel Correia de Andrade. Mas saberão todos os alunos quem foi esse Professor? Os mais antigos provavelmente sim, já que o mesmo faleceu aos 84 anos no dia 22 de junho de 2007, já para os alunos mais recentes escrevo este pequeno texto no intuito de conhecer um pouco de sua historia.
Manoel Correia de Andrade nasceu no dia 3 de agosto de 1922, no engenho Judiá em Vicência no estado de Pernambuco, filho de Zulmira Azevedo Correia de Andrade e Manoel Correia de Oliveira Andrade (senhor de engenho, criador de gado e advogado). Aos 10 anos de idade veio para Recife com sua família e passou a estudar no Liceu Pernambucano, concluindo lá o ensino fundamental e no Instituto Carneiro Leão fez um curso complementar pré-jurídico, lá conhecendo a sua futura esposa, uma colega de classe. Posteriormente entra na Faculdade de Direito do Recife e após dois anos começa a cursar, também, História e Geografia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manoel da Nóbrega, hoje chamada de Universidade Católica de Pernambuco. Forma-se bacharel em direito em 1945 e em 1947 diploma-se em Geografia e História.
Mesmo sendo filho de senhor de engenho, aos vinte anos entra para o partido comunista, onde fica por sete meses adquirindo conhecimentos sobre a esquerda no Brasil, que servirão para delinear sua luta em prol dos sindicatos como o dos trabalhadores, dos ferroviários e da indústria do papel e do papelão. É nesta época que têm contato as obras do sociólogo Caio Prado Junior e passa a freqüentar o Arquivo Público Estadual no intuito de entender cada vez mais as revoluções ocorridas do período regencial. Assim Manoel Correa passa a advogar cada vez menos e se dedicar aos estudos de Geografia e História cada vez com mais afinco. Em uma de suas viagens conhece Caio Prado que estava selecionando especialistas de cada região no país para que colaborassem com a descrição de um perfil sobre as diversas questões agrárias no país, estudo esse que deu origem ao seu livro A terra e o homem no Nordeste, cujo prefacio é de Caio Prado. Estudo criticado pelos geógrafos por ser muito mais militante que científico, e em 1964 o livro é considerado como subversivo pelos militares por isso é apreendido.
Participou de passeatas de oposição a Agamenon Magalhães, lutas políticas contra o Estado Novo, foi preso e processado por participar destes movimentos.
Em 1952 ao contrário das vontades de seu pai começa a lecionar para o ensino médio. Começa lecionando Geografia do Brasil e História, nos colégios Vera Cruz, Padre Félix e Americano Batista. Ensina também Geografia Física, na Faculdade de Filosofia do Recife; Geografia Geral, no Colégio Estadual de Pernambuco; e Geografia Econômica, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O jovem professor conheceu vários países e realidades fora do Brasil: estudou na École Pratique de Hautes Études, na França; passou quinze dias em um congresso em Israel e viajou por todo o Estado; lecionou nas Universidades de Sukuba, no Japão, e na Universidade de Buenos Aires, na Argentina; deu palestras e conferências no Peru, no México, na Colômbia, na França e nos Estados Unidos (Califórnia), entre outros.
Recebeu títulos de Doutor Honoris Causa, por parte de três Universidades Federais (a do Rio Grande do Norte, a de Alagoas, e a de Sergipe), e pela Universidade Católica de Pernambuco; as funções de Chefe do Departamento de Geografia e História da Faculdade de Ciências Econômicas, da UFPE, e de Coordenador do Curso de Mestrado em Economia, da UFPE.
Esteve sempre ao lado das iniciativas mais progressistas em defesa da justa distribuição de terra e renda no campo. Escreveu sobre as diversas rebeliões pernambucanas, demonstrando sua admiração pelas formas mais fiéis de resistência e lutas sociais. Foi amigo de Francisco Julião e apoiador das Ligas Camponesas
Em 1984, Manoel Correia foi nomeado Diretor do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade (CEHIBRA), da Fundação Joaquim Nabuco, cargo que ocupou até 2003. O volume de sua produção científica foge dos padrões e limites dos demais membros da Academia Pernambucana de letras. O incansável pesquisador possui livros publicados e duzentos e cinqüenta artigos publicados, inclusive muitos deles em várias línguas.
Recentemente, o historiador e geógrafo foi homenageado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pelas suas contribuições para o pensamento agrário.
Era enfático em afirmar que a reforma agrária era um problema fundamental do Brasil e que deveria ter não um, mas diversos programas de reforma, variando de acordo com as particularidades. Foi contra também a transposição do rio São Francisco por criticava o alto culto de uma empreitada num país com poucos recursos e o impacto ambiental que poderia decorrer deste projeto.
Morreu no dia 22 de junho de 2007, no Recife, em conseqüência de problemas cardíacos. Seu corpo foi velado na Academia Pernambucana de Letras, morte muito lamentada pelos movimentos sociais, o MST se referiu ao mesmo como um intelectual comprometido com seu povo que manteve, ao longo dos seus 84 anos, coerência com suas idéias e ideais. Foi um intelectual que muito contribuiu com estudos no campo das reformas em prol dos trabalhadores.
Foi em homenagem a este militante das causas sociais e a similaridades das idéias, que o D.A. de História em sua primeira gestão optou por colocar o seu nome, como fonte de inspiração de lutas sociais em todos os tipos de causas. E fazer o resgate histórico de cada parte que engloba nosso curso é dever de todos os alunos. Que as fontes de inspiração jamais se acabem e que a história de Manoel Correia de Andrade, através de seus escritos e exemplo ganhe cada vez mais estudantes e adeptos. E a esse presenteamos mais esta homenagem em forma de recordação.
Fernando Melo é estudante de História do 5º período e coordenador de comunicação do DAHIS Manuel Correia de Andrade

2 comentários:

Anônimo disse...

Fernando,

Há uma pequena correção a fazer. A homenagem ao prof. Manuel C. de Andrade não ocorreu durante a primeira gestão do D.A.

A entidade era denominada apenas como Diretório Acadêmico de História quando, em 2001, numa gestão da qual fui integrante deliberou e submeteu à aprovação dos estudantes a mudança do nome.

Se não me falha a memória, naquela ocasião formávamos a quinta gestão do D.A.

Yuri Pires Rodrigues disse...

Valeu Paulo, já alterei a matéria, e coloquei as informações corretas, sempre comente as matérias, pessoas de gestões passadas são sempre bem vindas...